Marmita

Sabor de dia seguinte.

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Vendo o teu corpo
À meia luz
Meio morto
Inerte
Morno
Silêncio
Navalha que corta
A goela dessa história
Que eu gritava
No ouvido do mundo
Que era de amor.

Mas, amor
Meu amor
Não é que nem onda do mar
Que vem, e volta
Diferente
Do teu
É mais cachoeira
Que jorra
E atropela
O que vier pela frente
Afogando as mágoas
De quem ficou.

Fiquei
Feito réstia de sol
No colchão gelado
Restei
No teu riso
Sem graça
De quem come
Resto de comida
Gelada
De quem sobrou.

Dessa cama
Desse quarto
Desse hotel
Do teu braço
Desse abraço
Sem jeito
Torto
Troncho
Sem vontade
Que você me dá
Como troco em bala
Não quero mais
Nada
A não ser ida
Sem data
Pra voltar.

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Arte de capa: R. L. Alexander.

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Anna Liz de Oliveira

Educadora, bióloga, ativista e escritora, poetizando lutas e paixões da ponte pra cá. @poetaperiferica